A empresa americana Colossal Biosciences anunciou a Clonagem do Lobo-Terrível com o nascimento de três filhotes geneticamente modificados. Os animais, chamados Romulus, Remus e Khaleesi, apresentam traços físicos inspirados no extinto lobo-terrível (Canis dirus), desaparecido há mais de 12 mil anos. O feito chamou atenção mundial e reacendeu debates sobre os limites da engenharia genética.
O que a empresa fez
Os cientistas da Colossal utilizaram DNA extraído de fósseis antigos para reconstruir partes do genoma do lobo-terrível. Eles coletaram esse material de dois espécimes: um dente com cerca de 13 mil anos e um crânio preservado em piche, com aproximadamente 72 mil anos.
A equipe identificou 14 genes ligados a traços físicos marcantes da espécie extinta. Com isso, eles editaram 20 regiões genéticas em embriões de lobos-cinzentos usando a tecnologia CRISPR-Cas9. Depois, implantaram esses embriões em lobas domésticas.
Os filhotes nasceram com características como mandíbulas robustas, cabeça larga, ombros largos e pelagem clara. Segundo a empresa, até os uivos lembram os registros sonoros atribuídos ao lobo-terrível.

O conceito de “desextinção funcional”
A Colossal afirma que não buscou clonar o lobo-terrível de forma literal. Em vez disso, o objetivo foi replicar sua aparência e comportamento para criar um “substituto ecológico”. Esse método, conhecido como desextinção funcional, tenta restaurar o papel de uma espécie extinta no ecossistema atual.
Como o DNA antigo está altamente degradado, os pesquisadores usaram lobos modernos como base genética. Eles inseriram pequenas modificações com o objetivo de aproximar o fenótipo do lobo-terrível. Assim, o que nasceu não é uma cópia exata, mas um animal com semelhanças planejadas.
A resposta da comunidade científica
Apesar do entusiasmo da empresa, especialistas reagiram com cautela e críticas. Muitos cientistas questionaram a validade do experimento e o modo como ele foi divulgado.
Diversos pesquisadores consideraram a narrativa da empresa enganosa ou exagerada. O paleoecologista Nic Rawlence, da Universidade de Otago (Nova Zelândia), comentou:
“Este não é um lobo-terrível. É um lobo-cinzento com algumas características físicas do lobo-terrível — um híbrido, não uma ressurreição.”
Durante entrevista à BBC, Rawlence também criticou o uso de DNA antigo como base:
“Colocar DNA fresco em um forno de 500 °C por uma noite.”
“Você pode reconstruí-lo parcialmente, mas não é bom o suficiente para gerar um organismo real com fidelidade genética.”
Além disso, nenhum dado do projeto foi publicado em periódicos científicos revisados por pares. Essa falta de documentação impede que outros pesquisadores avaliem o estudo. Como consequência, surgem dúvidas sobre a reprodutibilidade, a metodologia e a validade científica dos resultados.
E as implicações disso?
No entanto, o projeto despertou discussões sobre ética e conservação. De um lado, há entusiasmo com o avanço da biotecnologia. Mas de outro, surgem alertas sobre o bem-estar animal, uso de fêmeas como “barrigas de aluguel”, e a viabilidade desses animais em ambientes naturais — que já mudaram completamente desde a extinção do lobo-terrível.
Além disso, muitos especialistas temem que essas iniciativas desviem recursos e atenção de espécies ameaçadas atualmente, que ainda podem ser salvas com medidas diretas de conservação.